domingo, 11 de maio de 2008

Qual disciplina deseja quem reclama da indisciplina?

Celso Antunes

Um tema que está tornando-se "moda" em educação é a indisciplina. Ao afirmarmos isso, não desejamos dizer que isso não ocorra e que não existem razões nos protestos de pais e professores. A questão da indisciplina é sempre assunto que preocupa e, nos dias de hoje, ainda mais, pois assume a perfídia em situações de "bullying" ou avança para registros policiais quando evolui para a violência. Assim, quando falamos que a questão está tornando-se "moda" é porque em toda parte só se fala dela e alguns professores já começam a pensar que não vale a pena crescer em sua aprendizagem, pois ela jamais chegará aos alunos por causa da pertinaz indisciplina deles.
Sempre pensamos que a questão da indisciplina necessita de trabalho urgente e coletivo, mas, para que deixe de ser simplesmente "moda" e deixemos de assumi-la como intratável, cabe buscarmos caminhos, começando por perguntar "O que é efetivamente indisciplina?" e "Qual disciplina se deseja conquistar?".
Se procurarmos o significado da palavra disciplina, veremos em sua etimologia a idéia de "educar", "instruir", "aplicar" e "fundamentar princípios morais" e que seu antônimo é "desobediência", "confusão" ou "negação da ordem". Ampliando mais o sentido do termo, avançaremos para a idéia de "ordem", "firmeza", "obediência às regras" e, portanto, quando ela inexiste, torna-se necessária a culpa, o castigo ou a penitência. Mas será isso mesmo? Essa reflexão etimológica simboliza efetivamente a indisciplina que enfrentamos? Por acaso, não seria melhor ficarmos com um conceito mais amável, como, por exemplo, "Disciplina é uma relação de afeto e respeito, uma ação recíproca de cumprimento de normas". Disciplina não seria, portanto, aceitar, por exemplo, que na sala de aula constrói-se uma relação como quem joga dominó e, assim, é essencial ser parceiro e que essa parceria se fundamente em regras que todos devem cumprir? Caso se aceite que essa idéia conceitual é melhor que a primeira, cabe construí-la, e o início dessa construção se manifesta por meio de um acordo entre alunos e professores, algo como um "contrato" em que ambas as partes discutem e constroem seu papel e sabem como acatar sanções na eventualidade de um descumprimento.
Mas, para que essa disciplina desejável se possa construir, torna-se imperioso indagar "Qual disciplina estamos efetivamente buscando?".
Essa resposta necessita passar por uma desconstrução da idéia geral para a análise de situações específicas. Existe, por exemplo, uma disciplina em relação ao tempo: cumprir horários, acatar prazos, entregar tarefas nos momentos estabelecidos, planejar a duração de ações e discutir cronogramas. E também outra entre disciplina e espaço: respeitar locais; saber guardar as coisas, retirá-las e devolvê-las ao lugar onde foram apanhadas; ocupar espaços definidos e manter-se em ordem nestes. É também essencial que se analise a disciplina em relação ao outro, às pessoas: saber esperar sua vez, respeitar a pergunta do colega, mostrar-se educado em relação às diferenças, compreender a individualidade e libertar-se de estereótipos. Uma disciplina que efetivamente se deseje construir avança também em sua relação com a aprendizagem: é necessário saber usar a memória; evoluir na expressão da linguagem; administrar estados de emoção; concentrar-se; e diferenciar o descrever do analisar, o comparar do classificar e o deduzir do observar. Será que, muitas vezes, por não se conhecer bem esta, outras indisciplinas não são promovidas? Tal como em todo jogo amigável, é essencial que, ao discutir as muitas disciplinas, definam-se as sanções — jamais culpas, castigos ou penitências — que toda quebra de regra contratual implica. Se a regra diz, por exemplo, que somente o goleiro pode colocar a mão na bola que está em jogo, sempre quando outro jogador faz uso das mãos, a falta emerge de forma natural, sem ressentimentos.
Quando os professores de uma unidade escolar sentam-se com seus alunos e desconstroem e sabem reconstruir a plenitude da significação e dos tipos de disciplina, não apenas a aula corre mais facilmente e a aprendizagem se concretiza de maneira mais saborosa como estudantes e mestres descobrem que, reconhecendo a disciplina como ferramenta essencial às relações interpessoais, aprendem autonomia, exercitam a firmeza e conseguem, com mais dignidade, construir o caráter.

Celso Antunes é professor e psicopedagogo.

quarta-feira, 7 de maio de 2008

Descrição de Mãe


Quando Deus Criou as Mães

Diz uma lenda que o dia em que o bom Deus criou as mães, um mensageiro se acercou dele e lhe perguntou o porquê de tanto zelo com aquela criação. Em que, afinal de contas, ela era tão especial?

O bondoso e paciente Pai de todos nós lhe explicou que aquela mulher teria o papel de mãe, pelo que merecia especial cuidado. Ela deveria ter um beijo que tivesse o dom de curar qualquer coisa, desde leves machucados até namoro terminado.

Deveria ser dotada de mãos hábeis e ligeiras que agissem depressa preparando o lanche do filho, enquanto mexesse nas panelas para que o almoço não queimasse.

Que tivesse noções básicas de enfermagem e fosse catedrática em medicina da alma. Que aplicasse curativos nos ferimentos do corpo e colocasse bálsamo nas chagas da alma ferida e magoada.

Mãos que soubessem acarinhar, mas que fossem firmes para transmitir segurança ao filho de passos vacilantes. Mãos que soubessem transformar um pedaço de tecido quase insignificante numa roupa especial para a festinha da escola.

Por ser mãe deveria ser dotada de muitos pares de olhos. Um par para ver através de portas fechadas, para aqueles momentos em que se perguntasse o que é que as crianças estão tramando no quarto fechado. Outro par para ver o que não deveria, mas precisa saber e, naturalmente, olhos normais para fitar com doçura uma criança em apuros e lhe dizer: "eu te compreendo. Não tenhas medo. Eu te amo", mesmo sem dizer nenhuma palavra.

O modelo de mãe deveria ser dotado ainda da capacidade de convencer uma criança de nove anos a tomar banho, uma de cinco a escovar os dentes e dormir, quando está na hora.

Um modelo delicado, com certeza, mas resistente, capaz de resistir ao vendaval da adversidade e proteger os filhos, de superar a própria enfermidade em benefício dos seus amados e de alimentar uma família com o pão do amor.

Uma mulher com capacidade de pensar e fazer acordos com as mais diversas faixas de idade. Uma mulher com capacidade de derramar lágrimas de saudade e de dor mas ainda assim insistir para que o filho parta em busca do que lhe constitua a felicidade ou signifique seu progresso maior.

Uma mulher com lágrimas especiais para os dias da alegria e os da tristeza, para as horas de desapontamento e de solidão.

Uma mulher de lábios ternos que soubesse cantar canções de ninar para os bebês e tivesse sempre as palavras certas para o filho arrependido pelas tolices feitas. Lábios que soubessem falar de Deus, do universo e do amor. Que cantassem poemas de exaltação à beleza da paisagem e aos encantos da vida.

Uma mulher.

Uma mãe.
(Autor desconhecido)


FELIZ DIA DAS MÃES!